Lembro-me, exatamente, do momento em que o telefone tocou. Era do maldito hospital, solicitando a presença da filha. Já se passavam seis dias desde a sua internação, na véspera do Dia das Mães. E, naquela sexta-feira, 19 de maio de 2006, foi a dada a pior notícia que eu poderia receber. Ela não resistiu e partiu, me deixando sozinha. Logo eu, que sempre me achei autosuficiente, me senti sem chão, sem asas, sem rumo!
Uma dor imensurável me invadia de tal forma que pensei que fosse enlouquecer. E, naquele momento ainda me vieram falar de Deus! Que Deus é esse que ignorou minha súplica, e levou a única pessoa que me importava? Minha companheira, minha plateia, a pessoa que me amava incondicionalmente, sem pedir nada em troca. Que misericórdia é essa, desse Deus cruel, que deixava uma pessoa generosa e digna sofrer novamente com um câncer que já havia sido curado? Tudo o que eu não queria naquele momento era saber desse Deus que dilacerava meu coração!
Foram dias de cama, choro e desespero, até que a realidade batia a minha porta. A vida me cobrava reação, eu tinha que continuar! Não tinha vontade de seguir adiante, mas a faculdade e o trabalho me esperavam. Só queria ficar quieta no meu canto e não encarar a felicidade alheia. Estava destruída, minha vida virava de cabeça para baixo. Não conseguia permanecer na casa onde tudo me lembrava sua presença. Sua ausência me matava.
A família me acolheu: mudei de casa e de cidade. Os amigos me davam força. Parecia um zumbi, vivendo mecanicamente, sem vontade. Pensava em acabar com tudo, mas, me faltava coragem. A depressão se apoderou sorrateira e cruel. Mas, como dizem: nada melhor que o tempo (e um excelente psicoterapeuta)! É verdade. Não que não tenha aqueles dias mais tristes, não que a saudade não seja constante, mas os sentimentos vão se acalmando e se transformando. Hoje já consigo falar sobre o ocorrido, já consigo lembrar dela somente nos bons momentos, e não apenas nas tristes lembranças daquela data.