quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Selinho da paz

Em pleno século 21, ainda nos deparamos com pessoas de mentalidade da Era das Cavernas. O país da bunda e do carnaval ainda perde muito terreno para o preconceito e o machismo. E, por mais que se tente camuflar essas falhas, elas aparecem de várias maneiras. Uma foto publicada pelo jogador corintiano Emerson Sheik beijando os lábios de um amigo vem causando o maior reboliço na vida real e virtual. Prova de que a liberdade de expressão está longe de ser respeitada por muitos brasileiros.

O jogador afirma que não mudou sua opção sexual e que seu histórico amoroso pode provar isso, mas que foi criado num ambiente familiar que cultiva o “selinho” como forma de carinho entre as pessoas queridas. No texto postado junto à foto, Sheik diz que “tem que ser muito valente para celebrar a amizade sem medo do que os preconceituosos vão dizer”. O empresário Isaac Izar, que aparece na foto com Sheik, declarou que a foto foi feita para polemizar e testar o volume do preconceito.

Se a intenção era polemizar, eles conseguiram. Depois da foto publicada, cinco torcedores do Corinthians protestaram contra o beijo de Sheik na porta do CT do Parque Ecológico. Os corintianos lavaram faixas que diziam: “Aqui é lugar de homem”; “Viado não aceitamos”, “Viado é lá no Morumbi”. Os torcedores exigiam um pedido de desculpas do jogador e citaram a rivalidade com o São Paulo: “A gente não tira os bambis dizendo que eles são bichas? Aí vem falar que é normal? Para nós, não é normal. Não é homofobia nem nada, mas aqui não”, declarou um dos manifestantes.

Ora, se isso não é homofobia, então como chamar? A vida do jogador fora dos gramados nada tem a ver com os torcedores. O que deve importar, na realidade, é seu rendimento positivo dentro de campo, e isso Sheik tem de sobra. Apesar de desapontado com o comportamento dos torcedores e de ter afirmado que não tinha motivo algum para se desculpar, o pedido de desculpas foi feito. Sheik disse que não queria ofender ninguém e pediu desculpas aos que se sentiram ofendidos.

Talvez tenha sido desnecessária a publicação da foto feita por Sheik com exclusiva finalidade de polemizar. Mas, independente disso, as reações negativas são ainda mais desnecessárias. O Brasil é sim um país muito preconceituoso e machista. Ainda há muito caminho a percorrer para se libertar desses males, que são culturais. A diferença está no respeito ao próximo (que deveria ser cultural, mas não é). Afinal, entre achar graça ao ouvir uma piada gay e atacar uma pessoa por sua orientação sexual há muita diferença.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

De quem é a culpa?

Um crime bárbaro e ainda sem conclusão investigativa vem mexendo com o País desde segunda-feira, dia 5. Segundo a Polícia, um menino de 13 anos teria matado pai, mãe, avó e tia, dirigido o carro da família até a escola, participado de todas as aulas, voltado para casa e se suicidado. Por mais que casos raros como esse já tenham acontecido em outros países e sabendo que existem sim muitos adolescentes criminosos à solta por aí, é duro aceitar que um menino caracterizado por familiares e professores como calmo, amoroso e tranquilo tenha sido capaz de tal atrocidade.

A Polícia diz que o caso não está concluído e segue com as investigações, mas desde o primeiro momento defende a tese de que o menino é o principal suspeito do crime. Um vídeo do garoto saindo do carro da família, que permaneceu estacionado próximo à escola até ser encontrado pela Polícia; o depoimento de um amigo de classe afirmando que o menino já teria manifestado vontade de matar os pais, fugir de casa e ser matador de aluguel; além de outros indícios foram o bastante para a Polícia definir a linha de investigação.

A família não acredita que pai e mãe, policiais da ROTA devidamente treinados, tenham se deixado dominar por um menino de 13 anos, que sofria de fibrose cística. Apesar de uma testemunha afirmar que o garoto sabia atirar a partir de aulas adquiridas com o próprio pai e que também sabia dirigir, também influenciado pelos pais, a perícia aponta que cada vítima foi morta com um tiro de pistola .40 certeiro na cabeça. Por mais que o menino soubesse atirar, seria tão frio a ponto de não desperdiçar nenhuma bala, mesmo com a tensão de matar toda a família?

O fato de não ter sido encontrado resíduo de pólvora na mão do menino é outro ponto questionável. Mas, a Polícia afirma que a característica da pistola .40 torna isso possível. Estranha-se, ainda, que um par de luvas tenha sido encontrado somente um dia depois no carro que teria sido dirigido pelo menino. Seria isso para justificar a falta de pólvora?

Outro ponto desencontrado na história foi o depoimento do chefe da policial morta. Primeiro, ele afirmou que a cabo Andréia havia ajudado em investigações que incriminariam colegas policiais. Tal declaração deixaria margem para crer que a morte da família pudesse ser retaliação. Mas, no dia seguinte, o coronel voltou atrás, se contradizendo. A corporação garante que não existem registros oficiais de investigação ou denúncias citadas pelo coronel.


O menino está morto, não tem como se defender e contestar a linha de investigação da Polícia. O delegado responsável pelo caso garante que não há o que esconder e que tudo está sendo feito com transparência para dar respostas à família das vítimas. Ainda há depoimentos para serem colhidos e perícias para serem realizadas. Enquanto isso, nos restam dúvidas e perplexidade.